terça-feira, 19 de maio de 2015

Pai

O que você dá em troca de conforto? Uma vida inteira se passou, vejo em você as marcas da dor, do cansaço físico e do mental. Vejo sonhos jogados fora, compreendo seus motivos e por isso não posso aceitá-los. Me dói todas as vezes que olho para seu cabelo e sua barba, observo os fios brancos tomando conta e me pergunto: velhice ou estresse? Por todos esses anos eu te vi sair as 8 para chegar as 18. Te vi chegar estressado, mesmo que algumas vezes o senhor tinha uma história engraçada para contar. Tudo isso para nos dar conforto, para nos alimentar e poder nos chamar de classe média. Infelizmente eu não consigo fazer o mesmo, pai. Eu não sou você e não quero ser. 

Quando eu era pequeno eles me perguntavam o que eu gostaria de ser quando crescer e por muitos anos eu respondi que queria ser você. Mas hoje, apesar de tudo que você fez por mim, eu não posso dizer isso. Não posso sofrer para manter uma família sem que eu esteja presente nela, não acho injusto que eu sofra, mas acho injusto que meus filhos não possam me ter presente. Você me escondeu seus sonhos e eu te mostrei os meus. Eu amei seus sonhos e você odiou os meus. Você não realizou seus sonhos, mas para mim ainda há tempo. Por isso farei o que for preciso. 

Nunca quis me afastar, mas você me colocou para viver sozinho desde os 14, me deu autonomia, agora é preciso lidar com ela. Sofrerei as consequências das minhas escolhas, mas não sem lembrar que te amei em cada uma delas. 

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