segunda-feira, 23 de maio de 2016

Sun, Sea, Me

O calor queimava minhas asas, fazendo com que eu sentisse uma dor excruciante, algo como nunca antes havia sentido. O Sol brilhava cada vez mais forte, atormentando-me com o calor insuportável . Eu queria sair dali de qualquer maneira, mas não conseguia, estava tudo errado, fora de ordem. Eu ainda estava no labirinto, não devia ter que me preocupar com o Sol. De alguma maneira, porém, ele havia entrado ali, entrado no meu local e me atacado.

Como? Não sei, talvez eu tenha permitido sem mesmo perceber. Talvez eu tenha dado a impressão de que eu queria algo com o Sol, de que eu queria que ele fizesse parte da minha história, mas na verdade eu só procurava segurança. Não para mim, claro. Eu já disse antes que não me preocupo em me machucar, contanto que outras pessoas não se machuquem. E de certa forma, era o que estava acontecendo, afinal de contas, eu estava sendo queimado. 

É engraçado como as coisas funcionam, o Sol queimava, a simples presença dele me causava todo aquele sofrimento. Como pode o Sol queimar, se por dentro ele é tão frio? E eu pensei que fosse cair, como nas antigas histórias contadas sobre mim, por mais que tudo estivesse fora de ordem. Não precisei nem estar fora do labirinto para me encontrar com o responsável pela minha morte. Abri os olhos com dificuldade, enfrentando a luz cegante que invadia o recinto e procurei por um amigo, alguém que fosse me segurar ao me ver caindo, alguém para me ajudar ou simplesmente ficar ao meu lado durante meus últimos momentos. Haviam pessoas ali, eu percebia, todas tentavam se aproximar, ajudar, mas ninguém entendia.

Senti raiva de mim mesmo e chorei por vários motivos. Por ter deixado o Sol entrar, por ter tantas pessoas ali no meu labirinto, vendo minha vulnerabilidade e também por estar vulnerável. Por que eu não podia simplesmente apontar as mãos pra frente e afastar tudo e todos? Por que eu não tinha esses poderes? Por que eu não tenho nenhum poder? Tudo que eu tenho são asas, responsáveis pela minha liberdade, colaboradoras dos meus sonhos, partes de mim que eu amo, mas que naquele momento não me serviam de nada além de me lembrar do meu fracasso.

Então eu caí, de olhos fechados. Senti o chão se partindo ao meio, senti tudo tremer e rodopiei no ar descontroladamente, indo em direção ao Mar. Abri os olhos e assustei-me com o que via, não era quem eu esperava, era o Sol. Ele continuava ali agora, mas sem me causar dor, tristeza, sofrimento, mas também não causava alegria, tranquilidade, paz. Vi mais uma vez o Sol como ele era, gelado. Quis ter forças para mandá-lo sair dali, para me deixar em paz, forças para dizer que ele havia morrido para mim. Só que nem precisei, antes mesmo de buscar uma força em mim para isso, vi ele se afastando ou melhor, sendo afastado.

Quando eu parei não houve baque, não houve dor. Foi como um abraço, talvez tenha sido mesmo. Não conseguia vê-lo, contudo eu sentia sua presença e ansiava pelos seus braços ao meu redor. Era o Mar, que me tragava com seu olhar, afogava-me em sua ressaca. E eu afundava nele, cada vez mais em seu interior, o que me deixava calmo, afinal, ele terminaria o trabalho do Sol, juntos eles eram responsáveis pela minha morte. Não foi exatamente o que aconteceu.

O Mar me recebeu, pensei que fosse me machucar como o Sol, que me sufocaria, que fosse me fazer sentir frio e então me levaria para as profundezas e a escuridão. Foi inesperado. Foi quente, mas não queimava como o sol, era acolhedor e caloroso. Como podia o Mar ser caloroso, se era tão frio por fora? E ainda por cima, eu não estava sendo asfixiado, eu não sentia nada entrando em meus pulmões e tirando-me a vida do corpo, apenas me tomava a respiração, afetava meus sentidos, de uma boa maneira. E ao contrário da escuridão, era tudo muito claro.

Aproveitei aquele momento, mergulhei sentindo as águas me renovarem, fortalecerem, até que em um momento me deixaram em uma praia. Olhei nos olhos dele e sorri. Eram cor de mel, por mais absurdo que isso soe, e pareciam me puxar para cada vez mais perto dele.

- Não era assim que deveria acontecer, meu destino não é esse. Era pra eu ter morrido aqui.

Falei e obtive como resposta algo surpreendente.

- Você é o senhor do seu próprio destino.


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